Somos todos porquês.

23:21

O Ensino Médio sempre me foi indiferente. Boas lembranças, bons amigos, bons professores. Muitas dúvidas, algumas decepções, cansaço. Na balança equilibrava. Isso até eu assistir '13 Reasons Why'. Graças à série, pude repensar esses três anos - sob outros olhos.
Não sei se foi por nunca ter mudado de escola ou sofrido repressões. Talvez seja porque a cadeia social das 'High Schools' é mais massacrante que a realidade do Ensino Médio daqui. Mas, apesar de entender os conceitos de bullying, depressão e abusos, eu nunca tinha parado para pensar nas pequenas atitudes, no que se torna a bola de neve. No que nos faz pessoas boas e ao mesmo tempo porquês.
Sempre me considerei uma pessoa boa. Ou pelo menos me esforcei para isso. Sempre tentei ajudar as pessoas que estavam com problemas. Ouvir, aconselhar. Então, eu poderia pensar "nunca magoei ninguém, nunca agredi ninguém". Depois desses treze episódios, não posso mais pensar assim.
Hoje, entendo que, se não falei palavras ruins, pelo menos uma vez eu as propaguei. Mais de uma vez. Acontece, toda vez que alguém conta da menina que bebe nas festas até desmaiar. Ou que tem suas fotos íntimas publicadas. Ou que ela deixa ser tocada por um menino, e assim fica taxada e fácil. Ou quando ela beija muitos. Ou muitas. Ou ninguém. E o mesmo, inversamente, com os meninos. (Nem sempre com a mesma repercussão.)
Nós julgamos e somos cruéis. Somos jovens e, muitas vezes, não temos dimensão da dor que podemos causar. Da dor que já causamos. Sem dar spoilers, nem Hannah tinha. Ela foi machucada, de inúmeras maneiras. Mas ela também machucou, sem perceber. Ela não viu que, como jovens impulsivos, alguns a magoaram tentando mostrar que gostavam dela. Ela não teve como ver.
Aqui, não estou defendendo o que nenhum deles fez. Ou culpando a vítima. Mas Hannah foi um porquê, pelo menos para um deles. Todos nós somos um porquê. Nós menosprezamos, criticamos, zoamos as vidas alheias - sem ao menos saber 15% sobre essas mesmas vidas. 
Me pergunto, se vamos reproduzir esse ódio para sempre. Eu mesma, durante meu Ensino Médio, deixei de fazer coisas que queria por medo do julgamento dos outros. Desde que entrei pra faculdade, sinto que evolui (pouco, mas evolui). Tive a oportunidade de rever meus preconceitos, aceitar melhor as diferenças. Talvez seja a influência de uma metrópole ou de uma instituição com valores diferentes da minha antiga escola.
Mesmo me posicionando contra desigualdades e me revoltando com preconceitos, percebo que ainda cometo alguns deslizes. Quando volto para minha cidade, vejo que estamos parados no tempo. O lugar que todo mundo se conhece é também o lugar que ninguém esquece. Ao descrever uma pessoa, descrevemos os seus 'erros'. O que foi fofoca é mais fácil de lembrar, né?
Passados dois, três, cinco anos. Ainda lembramos das escolhas feitas pelos outros. Escolhas que só interessam a eles. Lembramos e criticamos. E também somos atingidos pelos outros, também sofremos quietos. Mas continuamos o ciclo vicioso. Assim, nos mantemos como um porquê. Quem sabe se um dia deixaremos de ser.


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1 comentários

  1. Nós só nós damos conta de como somos cruéis quando saímos do ensino médio. Excelente reflexão. Beijos.

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