Meu próprio amo-odeio-amo o Rio de Janeiro

12:33

Eu compartilhei um texto no Facebook que fala sobre os problemas no Rio de Janeiro, do ponto de vista de uma paulista. Duas amigas que moram na cidade, uma delas carioca, criticaram texto e disseram que eu faria um melhor. Então, decidi fazer o meu próprio. Não para ficar melhor, mas para que ele seja a minha opinião, barramansense, sobre o Rio - e seus problemas. 

Fui até a janela do meu quarto, que está quase sempre fechada por conta do barulho. Abri, e observei. Um dia cinza, chuvoso. Os carros passando na avenida, vários prédios em volta. Ali embaixo, o rio Maracanã, poluído. Mais distante, a galeria onde duas pessoas já morreram em assaltos desde que moro aqui. 

Então, eu observei de novo. De um lado, um morro. Não, não era uma favela. Um morro, com árvores, natureza, no meio da cidade. Do outro lado, pude ver o Maracanã. Me lembrei da chuva de fogos no encerramento das olimpíadas. Naquele dia, estava trabalhando, com chuva e frio. Lá do alto do estádio, ventava muito. Mas quando a Marilene de Castro começou a cantar "Pelo tempo que durar", enquanto a tocha olímpica apagava, eu chorei. Estava grata por participar desse momento, ao vivo. E foi o Rio de Janeiro que me proporcionou esse momento. 

Sim, eu odeio muitas coisas no Rio. Odeio não conseguir andar na rua, por conta dos milhares de ambulantes. Odeio passar pelo histórico Centro, e ver o lixo pelas ruas. Restaurantes jogando os restos ali, na calçada. Odeio não me sentir segura. Odeio o trânsito louco dessa cidade. Odeio quando os jornais só mostram o susto dos moradores da Zona Sul com a violência, e não mostram quem vive com esse medo, na porta de casa. Odeio o barulho de sirenes, o tempo todo. Odeio conhecer pessoas com salários atrasados, sem faculdade, sem emprego - por conta de políticos corruptos. Odeio saber que esses políticos foram eleitos por mim também, quando eu ainda nem morava aqui. Odeio cada vez que uma criança me pede dinheiro, ou tenta vender uma bala e eu não posso ajudar. Odeio o tapa na cara que o Rio me dá, diariamente, mostrando o quanto que eu tenho e o quão impotente eu sou para os problemas do mundo. 

Mas, quando eu paro para pensar, tem muita coisa que amo no Rio. Amo quando eu estou esperando para pegar o VLT na rodoviária, e vejo o Cristo Redentor, me recebendo na cidade. Lembro quando eu fui lá em cima pela primeira vez, ano passado, e vi o Rio todo: a riqueza, a pobreza, a cidade e a natureza. Amo quando estou na Presidente Vargas, e vejo à Candelária, iluminada, majestosa. Amo a brisa do mar e não ligo se a maresia corrói os móveis - eu quero morar em frente à praia. Amo poder ver todas as belezas naturais do Rio. Amo que a maioria das pessoas não ligam para como você está vestida - de calça na praia, de chinelo na faculdade, com aquela sua calça rasgada favorita. Amo como as pessoas puxam assunto, do nada. Amo essa necessidade de falar do carioca, amo a simpatia. Amo que até os mais humildes, não deixam de sorrir. Amo as gírias. Amo riscar coisas da minha lista de "Coisas que todo mundo que mora no Rio deve fazer".

(Pessoalmente, amo que metade dos meus amigos do Rio, não são cariocas. Amo sair no carnaval com uma amiga, e no último dia já ter conhecido amigos de amigos de amigos e estar num grupo de mais de 10 pessoas. Amo, hoje poder dizer, que amo o carnaval. Amo os amigos que conheci na faculdade, lá em 2015, amo até os que não são como 'todo carioca'. Amo aquela turma que se odeia e tem as mesmas histórias desde o primeiro período, mas continua contando para todos os professores. Amo os que fiz durante as Olimpíadas, amo toda vez que lembro das nossas madrugadas Engenhão > Buxixo, quando Nego do Borel puxa assunto com seus amigos. Amo toda vez que lembro da roda de samba, ensinando as gerentes gringas a sambar. Amo os amigos que fiz recentemente, e não amo só porque eles são minha companhia para não pagar uber sozinha para ir pra casa. Amo porque eles são de publicidade e nunca entendem nada que eu falo de jornalismo, ou nada que eu falo no geral - e mesmo assim são quatro amorezinhos. Amo as pessoas, amo quando elas amam meu sotaque.)

Talvez, meu lugar preferido no mundo ainda seja minha casinha em Barra Mansa. Mas, mais do que nunca, posso dizer: eu amo o Rio. Amo por tudo que citei, até pelo que odeio. Porque, se eu não me deparasse com essas coisas, poderia viver no meu mundinho para sempre, sem nunca querer mudar. Hoje, eu choro pelo Rio de Janeiro e espero pelo dia que ele possa ser melhor, mais justo e menos violento. Por amar a cidade, eu vou continuar me revoltando - com a desigualdade social, com a violência, com o preconceito.

Ao contrário do texto que compartilhei, posso dizer com toda certeza, que amo estar aqui. Posso até fazer parte dos 56% que quer ir embora. Mas eu quero voltar, também. Por quê? Porque eu amo o Rio. E amo mais, muito mais, do que amava quando me mudei para cá. 

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